sábado, 4 de junho de 2011

Forças Armadas: modernização custa R$38 bi






Sistema para proteger fronteiras começa pela Amazônia; número de homens do Exército na região vai aumentar

Por Orivaldo Perin

Pelos valores até agora públicos, a modernização operacional e tecnológica das 
Forças Armadas está custando o equivalente a 38 Maracanãs reformados. 
Na Marinha, o gasto com cinco submarinos (um deles, de propulsão nuclear),
 mais um estaleiro e uma base naval será de R$18,7 bilhões até 2024. 
Na Aeronáutica, a compra de 36 aviões de combate (adiada pela presidente Dilma)
 é calculada em R$10 bilhões. Agora é o Exército que apresenta a conta de seu upgrade: 
US$6 bilhões (algo em torno de R$9,6 bilhões) para a implantação, em 10 anos, do Sisfron, 
um projeto para resolver (com tecnologia de ponta) um velho problema do país, a 
vulnerabilidade de seus 16,8 mil quilômetros de fronteira seca, sobretudo na
 Região Amazônica – que agora voltou a estar em evidência por conta dos crimes ambientais.

Na verdade, a conta já passa dos R$38 bilhões, cifra que recentemente incorporou
 os US$6 bilhões do Sisfron. A sigla que engordou a conta do salto das Forças Armadas 
para a modernidade é o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras, cujo 
conteúdo o Exército vem tornando público aos poucos. Até porque o projeto em 
si ainda está em desenvolvimento.


- Podemos dizer que já temos 60% dele prontos – disse ao GLOBO o comandante 
do Exército, general Enzo Martins Peri.


Em setembro, a , empresa brasileira que o desenvolve, apresentará o projeto 
final ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim. A partir disso, será possível definir
 os primeiros passos do Sisfron, que nasceu alinhado e inspirado pela Estratégia 
Nacional de Defesa (estabelecida em 2008), na qual a proteção da Amazônia
 é listada como prioridade. Os principais pontos da entrevista do General Enzo 
Peri sobre oSisfron:


SISFRON, O QUE É: O Brasil tem 16,8 mil quilômetros de fronteira seca com 
10 países vizinhos. Está entre as maiores do planeta. É o dobro, por exemplo, 
das fronteiras dos Estados Unidos com o Canadá e com o México, que somam 
8,8 mil quilômetros. Ao longo da nossa fronteira com os vizinhos da América do Sul, 
temos 570 municípios, espalhados por 11 estados. O Sisfron é um sistema de vigilância
 e monitoramento que vai dotar a força terrestre de meios para uma efetiva presença 
em todo o território nacional, particularmente nessa faixa de fronteira. E já nasceu
 tendo a Amazônia como prioridade. Dos 16,8 mil quilômetros a proteger, perto de
 13 mil estão lá.


ATUAL ESTÁGIO DO SISFRON: Contratada por R$17,2 milhões, a Atech deve 
apresentar o projeto do Sisfron em setembro. Trata-se de uma empresa brasileira com 
extensa experiência na integração de sistemas e redes. Participou, entre outras realizações
, do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). A partir do projeto, o Ministério 
da Defesa definirá como implantar o
Sisfron. O custo estimado é de US$6 bilhões, ressalvando que é prematuro
 cravarmos algum número no estágio atual. É muito provável que o Sisfron 
vá custar mais que isso.





O QUE PROJETO VAI DEFINIR: O projeto da Atech estabelecerá a forma
 de promover a vigilância e os equipamentos a serem utilizados. Sabemos que
 vamos precisar de radares sofisticados de curto e longo alcance, de equipamentos 
de visão noturna, de torres de observação e transmissão de sinais, de câmeras óticas
 e termais, de imageamento por satélites, de sistemas de treinamento e simulação,
 de veículos aéreos não tripulados (vants), de blindados para proteção de fronteiras,
 de veículos de apoio, de embarcações especiais, enfim, tudo que nos ajude diante 
dos desafios que temos pela frente. O Sisfron abrange distâncias continentais e vai lidar
 com deficiência de infraestrutura, afastamento dos grandes centros, diversidades
 regionais e, principalmente, a permeabilidade das nossas fronteiras, desafios que
 já enfrentamos hoje.


PROBLEMAS NAS FRONTEIRAS: O mapa dos crimes (veja quadro no infográfico)
 na nossa região de fronteira mostra problemas como contrabando, tráfico de drogas,
 armas e munição, roubo de cargas e veículos, refúgio de criminosos e crimes 
ambientais em quase todos os estados que fazem limite com nossos vizinhos. 
Em menor escala, temos ainda roubo de gado, tráfico de pessoas, exploração
 sexual e infantil, evasão de divisas e até turismo sexual, no Amapá.


Um estudo realizado recentemente mostrou que hoje, no combate a esses
 problemas todos, o Brasil já gasta uma cifra parecida com o custo projetado para o Sisfron.



NA AMAZÔNIA: A Amazônia é a nossa prioridade. Depois cuidaremos do Centro-Oeste
 e em seguida do Sul. Temos hoje cerca de 27 mil homens na região amazônica
 (o efetivo do Exército é de 220 mil homens) e podemos adiantar que, com o Sisfron, 
esse número deverá chegar a 35 mil. Quando a gente olha a Amazônia, vê, claro, que o 
efetivo atual não está concentrado todo nas regiões de fronteira. O importante é que 
estejam distribuídos pela região, em condições de serem deslocados. A questão não é 
concentrá-los em determinados pontos e, sim, ter condições de deslocá-los de
 acordo com as necessidades. O Exército é a força terrestre. Em qualquer situação,
 é sempre a força terrestre que está presente. Por exemplo: em São Gabriel da
 Cachoeira e Tabatinga, ambas no estado do Amazonas, temos hospitais nos
 quais a população local responde por 90% do nosso atendimento. Ainda sobre a
 Amazônia: devemos levar em conta que é basicamente fluvial o deslocamento na região. 
O que nós temos de estrada por lá? A Manaus-Boa Vista, mais aquela que sai de
 Porto Velho, cruza o Acre até Cruzeiro do Sul e se interliga com a saída para o
 oceano Pacifico… e a Manaus-Porto Velho, que um dia existiu. Aliás, o 
Exército está fazendo obras nela.


BRIGADA NO ACRE: Por falar em interligação com o Pacífico, estamos cogitando
 instalar uma Brigada só para atender o Acre, que atualmente é coberto pela Brigada
 que temos em Porto Velho.





AS FRONTEIRAS NA AMAZÔNIA: O trabalho de vigilância das fronteiras da 
Amazônia será feito pelos PEFs, Pelotões Especiais de Fronteira. Hoje são 20.
 Serão 48 com o Sisfron (veja no mapa do infográfico). A localização dos 28 novos 
PEFs independe um pouco do projeto do Sisfron porque segue a lógica dos atuais
 portões de acesso à Amazônia, geralmente por rios, onde ainda não temos pontos 
de vigilância forte, vamos dizer assim. O que o projeto deverá fazer é definir os 
locais exatos onde instalar os novos pelotões. Importante: esses pelotões não ficarão 
isolados, graças ao equipamento a ser utilizado pelo Sisfron.


TECNOLOGIA: Qual é o melhor equipamento para cumprir aquilo a que nos
 propomos? O projeto vai nos indicar o caminho. A indústria nacional está 
oferecendo muito apoio ao Sisfron, que, aliás, vai gerar muitos empregos. 
Já há grandes empresas trabalhando para o que será o Sisfron. A Embraer, 
por exemplo, criou uma nova unidade, a Embraer Defesa. A Odebrecht também
 já tem uma unidade voltada para defesa. A Andrade Gutierrez está atenta aos satélites. 
A Camargo Correa também se movimenta, enfim, há muitas empresas, grandes e
 pequenas, interessadas no Sisfron. Na Laad 
(feira de segurança e defesa realizada em abril, no Rio), fomos procurados por empresas da
 China, Itália, Espanha, Israel, todas querendo apresentar suas linhas de produtos
 tendo em vista o Sisfron. Muito importante nisso tudo será a transferência de tecnologia
. Hoje, a indústria de defesa precisa andar na fronteira tecnológica, liderar todos os avanços.


BENEFÍCIOS: O Sisfron vai aumentar a presença do Estado na Amazônia,
 promover a integração regional, estimular a cooperação militar com os países vizinhos,
 ajudar na preservação da região amazônica e proteção da biodiversidade, combater
 ilícitos ambientais e desmatamentos, proteger populações indígenas e aumentar a
 sensação de segurança na área, já que vai atuar contra todos os tipos de crimes
 comuns em nossas regiões de fronteira.


FINANCIAMENTO: Ao final do projeto, teremos que traçar um cronograma
 de desembolso. O Ministério da Defesa cuidará disso, com o envolvimento das 
áreas estratégicas do governo, que já conhecem o projeto. O Sisfron nasceu no Governo
 Lula e conta com operações de crédito externo, Parcerias Público-Privadas, BNDES. 
O prazo de dez anos para implantação é factível e, estrategicamente, o melhor. 
Foi estudado junto com a indústria nacional e leva em conta a necessidade de absorção
 tecnológica, a criação e a capacitação de novos quadros.

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